?Furnicadores? (1ª parte...)
Às vezes uma janela pode ser uma porta... Essa frase me veio à cabeça no meio de um banho, estava me imaginando como um diretor de cinema e estava procurando um título para um filme e eis que me aparece esta frase.
E eu olho ao meu redor e tento pensar em um assunto interessante para escrever... Nada, niente, esse é o meu destino, esse é o destino dos viciados na literatura. Acredito para quem goste de desenhar seja um pouco mais fácil... Apenas imaginar uma cena, um objeto, uma pessoa e pronto, arranjou trabalho para o resto do dia. Já para os viciados em escrever é mais difícil... Se imaginarmos um objeto ele pode ser definido em uma palavra "vaso", no máximo em uma linha se o objeto em questão for bem detalhado, precisamos de um assunto que nos interesse e quando não temos inspiração fazemos isso que estou fazendo agora...
- Hey Alberto, manda mais uma Skol... Amanhã tô de folga.
O bar estava como sempre, enfumaçado por cigarros, tocando algum 'clássico do cancioneiro nacional', o balcão todo melado de cerveja e pinga. Alberto, o dono do bar, estava de boné com um cigarro pendurado atrás da orelha, barba mal-feita e a velha camisa xadrez, estava bêbado para variar. "Será que todo dono de bar é alcoólatra ou todo alcoólatra é dono de bar? Esquece... sem questões filosóficas hoje, por favor!!"
Uma moça sentada num canto tossiu ruidosamente fazendo cair um pouco de cerveja do copo que segurava. Prostituta, possivelmente aidética ou viciada, ou as duas coisas, tanto faz. Estava com uma crise de consciência, afogava as mágoas na bebida, boa maneira de se livrar de um vício, mergulhando em outro. Em breve ela estaria aqui do meu lado, bêbada querendo que eu a pagasse algo para beber em troca de uma boquete, ridículo, mas provavelmente eu aceitaria.
- Hey Alberto, manda uma dose para a senhorita da mesa do canto! - ela acenou com a cabeça e deu um sorriso jovial e sedutor, via-se um toque de desejo no olhar da garota.
Nem sempre fui um escroto sem uma ruela no bolso... Já fui um escroto com grana, mas estou, como dizem mesmo? Ah, sim, me protegendo da chuva! Que porra de frase mais ridícula!! Estaria correta esta frase se fosse "uma puta tempestade" ao invés de "chuva".
Com um baque surdo Rogério, um bêbado, quer dizer, um cliente assíduo do bar deu com a testa no balcão, e começou de novo...
- Eu amo aquela mulher, Alberto!! - Rogério berrava e batia com o punho fechado no peito, estava chorando - Eu não queria ter batido nela! Eu amo ela! Eu tenho dois filhos com ela! Mas ela não precisava ter jogado fora a garrafa de pinga que meu pai tinha me dado! Aí não! Última lembrança do meu velho!
E bateu de novo com a testa no balcão, desmaiou. Todo dia era aquela merda, ele vinha lá pelas 07:30 e bebia até cair. Cantarolava odes para a sua ex-esposa e depois vomitava ofensas para ela, por ter jogado a maldita garrafa de pinga que seu pai havia lhe dado. Eu já começava a duvidar que aquela garrafa existia, afinal o pai de Rogério não a teria dado e sim a bebido. Filho de peixe bêbado é!
- Ôoo Alberto, acho que o Rogério vai vomitar de novo... Epa, alarme falso...
Então sinto aquele perfume inconfundível se aproximando, me ariçando os pelos da nuca, era algo divino, inebriante, a puta se sentara ao meu lado.
- Tá bom, mas só vou pagar um de 8 anos pela boquete... O de 12 anos anda malcriado e tem me dado muito dor de cabeça, sem falar que é o olho da cara criar ele...
Um sorrisinho e pronto o trato havia sido assinado com o bater do copo vazio no balcão alagado pelos xingamentos de Rogério.
- Ô Alberto, vou levar a mulher ali no banheiro que parece que ela quer me mostrar alguma coisa na boca dela...
Aiai, velho banheiro do bar do Alberto, tantas histórias, talvez as mais memoráveis da minha vida se passaram naquele cubículo. A privada não funcionava direito, mas dava pra sentar. Abri o zíper e com habilidade a moça cumpriu sua parte do trato...
- Ô Alberto, manda uma Ypioca para comemorar a minha inevitável, porém salutar ereção!!
Pronto, agora sim, tudo meio turvo, "Modo de Visão Alberto: Ligado". Agora estou enxergando a vida com mais clareza, ela é assim na verdade, turva, fora de foco, lento demais para calcular os movimentos e rápida demais para perceber a cagada feita.
Deveríamos viver em estado permanente de torpor, evoé Baco!! Que porra, já estou até cantando Robertão!! Lembro todas as letras dele... Tô velho! Mas todo mundo está velho desde que nasce, o mundo nasceu velho por isso que todo mundo é um bando de entediado, moralistas pau-no-cú!
- Ô Alberto, porra, tô bêbado! Hahaha! Manda mais uma Ypioca! Hoje a patroa... Peraê, eu num tenho esposa nenhuma faz... Sei lá, num importa! Só me manda mais uma dose do néctar!
Isso desce como água, não, é mais pura que isso... Desce como realidade! A mais pura e aguardente realidade! Realidade viciante, realidade inebriante, realidade viçosa, realidade passageira...
Acho que o Rogério num tá legal não, ele nunca tinha feito esses barulhos estranhos e tremido desse jeito...
coloque o dedo indicador do lado de seu olho, bem perto do globo ocular e aperta.... td fica meio turvo.... eu estou vendo a minha vida assim ultimamente...
winamp: modest mouse - the good times are killing me
p.s.: ateh parece que alguém vai ler as duas partes... mas sou um sonhador!!
postado por caio teixeira às 11:48 PM |