quarta-feira, 15 de agosto de 2007


Cavadores (parte 3 de 5)


Olha, como eu falei antes, aqueles putos estavam cavando há muito tempo. Anos, com certeza. Enquanto eu rastejava naquela escuridão, o fedor de merda e da porra da pasta de peixe que eles passam em todo o lugar me impregnava. Você consegue entender o horror que tínhamos de sermos emboscados? Eles, os Charlies conheciam tudo aquilo, nós não. Tínhamos pavor de cair em uma armadilha de granadas ou qualquer merda do tipo, já viu o estrago que uma cama de baionetas faz?

Anos e anos cavando. E não era só isso, só a extensão, eles faziam tudo lá dentro. Eles enterravam seus mortos lá dentro, para foder com a nossa preciosa contagem de corpos, entende? Para saber quantos tínhamos matado e quantos ainda faltavam para matar precisávamos de corpos. Eles os escondiam então nos perdíamos, matávamos a torto e a direito e sempre perdíamos os corpos. Eles os enterravam lá, dentro dos buracos com eles e continuavam lá, andando sobre os mortos, rastejando, dormindo com eles. Caralho! Eles estavam se reproduzindo lá embaixo, sabe? Porque eles levaram mulheres para os buracos, eram malditos vermes sob os nossos pés! Nasciam cavando. Sempre para baixo. Eles trepavam embaixo da terra e nos fodiam lá em cima! Incrível! Aquele pessoal queria sobreviver. Iria sobreviver.

Quando vimos aqueles túneis deveríamos ter ido embora. Digo, todo mundo, todo o exército. Levantar as barracas. Fugir daquele inferno cheio de buracos. Não tinha como vencer os cuzões. Sabe, o famoso e belo “adiós, amigos!”? Mas não, queríamos vencer.

Depois de matar alguns Charlies naquela escuridão chegamos a uma câmara maior, que dava para ficar agachado. Stu ascendeu a lanterna e vimos os corpos, os mortos. Eles estavam todos emparedados. Cheios de lombrigas, pareciam estar ali há séculos. Decidimos descansar um pouco, estávamos há horas rastejando naqueles buracos. Sentados lá senti um pouco do que era ficar naquele lugar, horas, dias, meses. Eles viviam lá, não saiam mais na superfície deviam ter decidido: “que os americanos fiquem com a nossa terra, nós vamos ter os corações deles”. E lá ficaram, e lá cavaram. Porém, uma coisa eu ainda não entendia: comida. Sem luz, sem plantas, sem animais. Nós dominávamos a maior parte do território vietnamita, os veríamos saindo das tocas para buscar mantimentos. Nunca vimos nada do tipo. Minutos depois eu entendi...

[winamp: jamie cullum - photograph]

postado por caio teixeira às 8:49 PM |

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