Asas
Da janela via a avenida, uma das artérias da cidade. Um shopping 24h iluminado completava o quadro. Não queria sentir tristeza, todo mundo era infeliz, não queria ser como todo mundo, sempre odiou parecer com alguém, talvez pelo medo de se ver no espelho, ou por puro egoísmo.
Não queria sentir felicidade, afinal, os motivos para se sorrir são sempre tão opacos em momentos melancólicos, quer dizer, melancólicos não, porque melancolia está na moda. Talvez uma falta de felicidade, só isso. Uma momentânea cumulus no céu de brigadeiro do milagre da vida. "Tá, conta outra agora..."
Chorar estava fora de questão, ainda mais durante o pôr-do-sol, hollywoodiano demais. O riso rasgava os músculos da face quando era forçado para fora, logo, ele ficou ali, sem rir e sem chorar, sem pensar demais, pois era coisa de "intelectuais moderninhos", sem vegetar, pois é assim que a "massa" faz.
O vento cortante batia nos olhos vidrados na antena contra choques aeronáuticos sobre um prédio. Ela piscava vermelho, ele piscava castanhos-escuros. Ela parada e sinalizando para que não chegassem perto demais dela, ele parado piscando para que nem o notassem.
A porta de uma varanda do prédio da frente se abriu, um homem, branco, saiu por ela. O homem olhou para baixo, "chão", olhou para cima, "chão", jogou o bituca de cigarro fora e voltou para o apartamento. A antena piscou, um cão latiu e vozes em coro gritaram para os céus.
"- Nossa! Você viu? Ele pulou de repente!
- É! Eu vi! Até consegui ver o rosto dele antes do objetivo!
- Objetivo?
- Oras, ele pulou lá do alto! Como sabemos, ainda não quebramos a força gravitacional sem ajuda de aparelhos, logo, o objetivo dele era o chão!
- Ah, sim! O chão!"
Ninguém o escutou gritando "céu"... Talvez todos gritam isso antes de morrer e agora caiu na rotina e saiu de moda, ninguém mais escuta o céu, talvez as asas foram esquecidas...
e eu juro que tô rindo! rindo! rindo! rindo!
[winamp: rage against the machine - testify]
postado por caio teixeira às 2:42 AM |