sábado, 19 de agosto de 2006


Guerra (parte 3)

Guerra (parte 3 de 4)

O comandante começa a gritar para você colocar as mãos para cima da cabeça, só ele percebeu que você estava deitado sobre elas, os outros são novatos e estão nervosos, respiram fundo, um quase vomita por causa do cérebro do pedreiro espalhado nos bancos cinzas reservados para deficientes, idosos e grávidas: "respeite esse direito". Pedreiro mal-educado poderia ter se espalhado em outro banco para deixar o cinza para um moribundo qualquer.

Você começa a se virar, o comandante grita para você não se mexer e colocar as mãos atrás da cabeça. Ele não vai atirar, deve ter recebido ordens de algum gordo burocrático que quer esfolar você vivo, em praça-pública. O comandante dá mais passos para trás enquanto você se vira, ele fica atrás de um dos novatos, ledo engano. As balas no seu rifle são revestidas de teflon, as famosas "fura-colete", ou "mata-coxinha". O teflon combinado com a rotação da bala disparada pode perfurar até mesmo um tanque, dependendo da distância e da arma. Com o seu M16 o colete destes policiais militares parecerá uma camiseta vagabunda. Se eles se enfileirarem você consegue varar, pelo menos, uns três.

Quando você fica de barriga para cima e apóia o rifle no obro direito eles se assustam, a arma é grande demais, quase um metro de comprimento, muito maior do que seus revólveres .38, usados somente pelos filmes velhos do Charles Bronson. Você quase sente pena de ver o terror nos olhos destes "mantenedores da segurança", destes "mocinhos" que irão morrer "em cumprimento do dever". Talvez até ganhem uma salva de tiros durante o funeral. O comandante irá ganhar uma medalha.

Dessa vez você tem que ser mais rápido, mira na altura do pomo de adão do novato que está na frente do comandante, pressiona o gatilho e uma bala de calibre 5.56 mm sai do cano de disparo a uma velocidade aproximada de 930 metros por segundo. Você não acerta o pomo de adão e sim na altura do peito, mas é o suficiente, a bala entra pelo tórax do novato, perfura o pulmão direito, faz um pequeno desvio quando estilhaça a parte de trás da caixa torácica e acerta o comandante. Ou ele morreu, ou vai morrer a caminho do hospital, o disparo acertou o "gogó". A dor de morrer afogado no próprio sangue deve ser desesperadora.

Os outros novatos congelam, "péssimo dia para sair do quartel", agora você segura o gatilho e faz um arco à sua frente. Outros dois policiais caem mortos e um com um terrível ferimento que vara sua bochecha do lado esquerdo. Isso vai doer de verdade mais tarde. Você chuta o revólver do sobrevivente para baixo do trem.


Você se levanta e já escuta o engatilhar de uma dezena de revólveres e alguns rifles, agora eles entenderam a ameaça. Mas ainda não é o suficiente. Você procura o próximo "patente alta", enquanto gritam para você jogar sua arma no chão. Você vê da onde veio a voz de comando, mira e começa a atirar. Acerta o alvo na perna esquerda, mas desta vez o batalhão de policiais responde. Os tiros passam zunindo por sua cabeça, um acerta de raspão o seu braço esquerdo e quase faz com que você solte a arma.

Você se joga entre os bancos do vagão e espera que os tiros parem. Se rasteja em meio ao sangue dos mortos até chegar próximo à porta de saída e observa. Todos estão do lado direito, os reforços não chegaram ainda, o lado esquerdo está livre. Você levanta e os tiros recomeçam, um acerta a sua nádega esquerda. Dói, arde, coça e queima, tudo ao mesmo tempo. Parece uma vespa flamejante se remexendo a cada passo que você dá. Você grita, mas não solta a arma. Restam pelo menos 20 balas no cartucho.

Correria, alguém desce as escadas que dão para a entrada da estação, que fica ao seu lado esquerdo. Você mira, ninguém aparece. Você continua mirando. Mirando, mirando e... Dor! Dor na sua "banda esquerda" faz a concentração sumir. Você bate com ela no vagão, e morde a língua. Uma dor lancinante sobe pela sua coluna espinhal até o tálamo, onde você entende que a dor é real e forte, tanto quanto a força destrutiva que você sente te queimando por dentro.



"existe uma grande falta de nerds alfabetizados no mercado"... conversas de jornalistas sempre rendem boas pérolas, paradoxos e eufemismos.

[winamp: tom waits - the piano has been drinking]

postado por caio teixeira às 12:27 AM |

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