segunda-feira, 21 de julho de 2008


Resposta "Ao Órgão Responsável"

Há um tempo, senhorita Fernanda Young (cineasta) escreveu um texto extremamente interessante. Em minha imensa, e inútil, humildade, fiz uma resposta ao texto dela. Confira, alguns gostaram, a maioria foi por puxassaquismo mesmo.

Ao órgão responsável (Fernanda Young)
Resposta por Caio Teixeira

Caro Pênis

Tenho notado você olhando torto para mim. Às vezes, basta eu chegar e você se levanta. Por acaso, você tem algum problema pendente comigo?
Pênis (P): Que absurdo, estimada Vagina! Na realidade sempre imagino que é você quem se incomoda com minha pessoa, afinal, ao chegar perto de você, seu suor chega a me molhar. Seria nervosismo?

O fato de nós estarmos em lados opostos não nos faz inimigos. Ao contrário, guardo um espaço especial para você, dentro de mim, e seria ótimo se pudéssemos nos unir em prol de algumas novas conquistas. Os atritos, como em qualquer relação, são normais e bem-vindos.
P: Concordo que nosso antagonismo físico não nos coloca como adversários, mas no final, só posso me aproximar de você quando permite. Entenda, nem tudo funciona a seu bel-prazer, mas rebelar-se e procurar um consolo é um ato de covardia desnecessário. Nada que um bate-papo e alguns beijos não resolvam.

Você me acusa de ser difícil, mas não conheço personalidade mais instável que a sua. Quando eu quero conversar, você se recolhe. Quando canso de tentar, você se anima. Quando finalmente penso entender aonde você quer chegar, você se coloca numa posição diferente.
P: Mas isso é óbvio. Após tantos amigos me alertarem de sua insatisfação (ora com os superficiais, ora com os cultos e profundos) fico desnorteado com o vai-e-vem no qual me coloca que, sejamos sinceros, no final sou eu quem faz todo o trabalho.

Sei que a vida talvez lhe pareça mais dura, já que é de você que são cobrados rendimento e desempenho. Mas o mundo não gira em torno da sua existência como você pensa. Diria até que, nas horas mais tensas, você sempre dá um jeito de ficar de fora. Até no momento em que sua participação se faz mais necessária, a continuidade da espécie, você se limita a entrar com metade da matéria-prima e deixa o resto para lá.
P: Estimada, tudo o que faço é por você. Será que ainda não percebeu? Não tenho mais fôlego para sustentar as maratonas sentimentais nas quais você me coloca. Dia após dia continuo com meu trabalho manual (causado por sua inconsistência), tento convencer o mundo, inclusive suas amigas, de que consigo ser profundo. Cansei de contar as vezes que você reclamou que estava com dor de cabeça para tentarmos outra aproximação, posições diferentes nem pensar e ainda reclamo quando a chamo de purista.

Dizem que eu tenho inveja de você - mas inveja de quê, afinal? Você, desculpe, está longe de ser bonito. Trabalha num ramo de atividade sem o mínimo charme: a remoção de detritos. Mora num lugar abafado, onde o sol nunca bate. Freqüenta locais escusos, de reputação duvidosa, em busca de um tipo de divertimento que já se encontra à mão, em sua própria casa. E aquele seu melhor amigo, convenhamos, é um saco.
P: Uma reclamação estranha vinda de alguém que muitas vezes, por puro fascínio, corre atrás de objetos parecidos comigo. Isso sem contar as ocasiões em que pede para suas amigas se fantasiarem de mim. Lastimável. Quanto à moradia, sinto lhe informar, mas estamos em mesma condição.

Mesmo assim, quero frisar, tenho por você imensa consideração e simpatia. Mais que isso - sempre busquei a sua aprovação de alguma forma, atrás de sinais de que estaria lhe agradando. Você, por sua vez, nem sequer disfarça seu completo egocentrismo. Fazendo-se de sonso e sumindo após satisfazer as suas necessidades.
P: Nossos sentimentos são recíprocos. Tome como exemplo minha estima à sua melhor amiga, sempre fui simpático com ela, apesar dela preferir levar tudo por trás. Sempre a achei meio gozada, mas charmosa, mesmo com os cortes de cabelo excêntricos. Aliás, nesse quesito seria interessante que a tomasse como exemplo. Não tenho nada contra o seu corte Afro, mas o excesso nunca é muito interessante.

Você se diz sensível, porém jamais se preocupa com o que o outro está sentindo. Quer apenas ocupar o seu espaço e atingir as suas mesmas velhas metas de crescimento. Deveria tentar aumentar suas expectativas, ampliar seus horizontes, investir na sua cultura. Qual foi a última vez que você viu um filme decente?
P: Concordo com essas suas afirmativas, mas de maneira alguma as considero como problemas. Desde que me entendo como ser tem dado certo esse meu jeito, e só ver como o mundo está povoado – concordo que nossas proles não são exatamente motivo para orgulho – então não entendo porque não manter o meu ritmo. Quanto a ampliar horizontes e aumentar coisas, se eu sentir necessidade, pode ter certeza que você será a primeira a ser consultada, afinal, não conheço mais ninguém com uma visão tão larga das coisas quanto a sua. Sobre cultura e filmes, entenda tudo o que procuro são maneiras de lhe agradar, todos são filmes técnicos sobre como conseguir que vossa pessoa saia dessa inércia enfastiosa, essa secura desértica, essa frigidez melancólica.

Sei que dificilmente vou conseguir abalar sua enorme auto-estima, mas, sob o meu ponto de vista, você não passa de um solitário, perdido em sonhos impossíveis e cercado por uma situação bastante enrolada. Acha-se o máximo, superextrovertido e revela-se um bobo alegre com pinta de seboso. Um cabisbaixo baixinho carente, o tempo todo em busca de qualquer carinho.
P: Se minha auto-estima é enorme, devo-a aos repetidos sorrisos banguelos de vossa simpatia. De fato, muitas vezes prefiro minha companhia à sua dramática presença, sempre uma rainha teatral, cheia de não-me-toques, até inventa que está sangrando por dentro, quando não quer algo comigo – uma desculpa que, sinto lhe informar, não funcionará mais.

Disponho-me a ajudá-lo, colega, caso você reconheça seus defeitos e fraquezas. Posso até te indicar um bom analista. Somente recuso-me a continuar a ser cúmplice na perpetuação de um equívoco.
P: Agradeço vosso ombro amigo, mas realmente começo a preferir vê-la pelas costas. Pelo menos dessa forma, consigo-me sentir abrigado e não largado por qualquer canto.

Você não é melhor que ninguém, temos o mesmo tamanho nesta história - de fato, se você cabe em mim, sou necessariamente maior do que você.
P: De qualquer forma, entendo que tentar me explicar para vossa pessoa é o mesmo que tentar tapar uma rachadura sem mexer na estrutura da casa, ela vai continuar crescendo e se abrindo ao primeiro tremor. Tente não chorar quando eu passar à suas costas e desculpe se te machuquei por dentro, não era minha intenção, mas às vezes sou muito grosso. Até qualquer dia.


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postado por caio teixeira às 1:25 PM |

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