sexta-feira, 15 de agosto de 2008


Aula de Contos

Comecei, ontem, um curso de Contos Literários. Para ser sincero não sei ao certo porque estou fazendo isso. Um colega de classe me perguntou isso mesmo: "por que você está aqui?" Me surpreendi com minha própria resposta natural: "estou escrevendo um livro e me bateu um bloqueio criativo infernal", isso está em parte correto. A parte correta é o bloqueio, a incorreta é o "me bateu", não "bateu" nada, eu sou um bloqueio ambulante.

A aula? Uma punhetação infernal sobre análises literárias e etimológicas. "Mas não estamos aqui para escrever?" Vai saber... De qualquer forma, ontem foi o primeiro "exercício literário". Escrever um conto "enrolado" sobre: um homem com um pescoço muito grande e um chapéu mole, que entrou em um ônibus muito apertado. Depois de um tempo ele conseguiu um assento livre. No mesmo dia vê-se o mesmo homem em uma praça conversando com outro, quando o segundo lhe aponta que o pescoçudo teria perdido um botão do casaco.

Eis a minha versão:

Revolvendo as brumas da sociedade contemporânea

Ou

Crítica pura do empirismo multipopulacional

Pouco se sabe, ou nada, sobre o destino, ponto ou parada que cabe a cada homem, ou não-homem, que trafega pelas linhas congestionadas da vivência empírica - alguns podem conclamá-la mística - que transitamos.

Tomemos como exemplo o senhor que adentra ao recinto móvel, transportador de (pré) conceitos, no qual me encontro. A estatura deste ser bípede é contradita por sua postura subserviente. Ostenta um chapéu gasto, acredito, por seus pensamentos pouco viris. É mole. O que em uma girafa é considerada como qualidade evolutiva, diriam darwinistas (logo execrados pelos criacionistas), ao sujeito foi atribuído como sendo um colóquio raso, uma piada divina que nem ele mesmo entende.

- Êta busão arretado de gente! - exclamou, tentando, com pouco, ou nenhum, sucesso conquistar seu singelo espaço. O uno é coletivizado enquanto entroncamentos metafísicos como "por que eu", "por que aqui" e "por que não saí mais cedo do boteco" se debatem, assim como os últimos suspiros de Deus sob o julgo carrancudo - e por que não "bigodudo" - de Nietzsche.

A massa segue em frente, acima, abaixo, adentro, afora, até que uma revelação "epifânica" se mostra aos olhos esclerosados do viajante. Um assento livre. As janelas da alma lhe denunciam o súbito desejo onírico de individualidade. Sentar é preciso, mesmo sob a imprecisão do desenrolar vivencial.

Como um sonho, a viagem passa, os músculos relaxam e as pernas retesam. Mas, o que seria o relaxamento físico contra a opressão filial proposta pela mente carregada? Nada? Tudo? Passa-se meu ponto.

Caminhando por uma comuna pública, pensando sobre o bípede oprimido, perfeito espécime dos anos maquinados, automatizados, brota-me à frente tal figura novamente - ou eu que me apareci à sua percepção?

- Rapá, do teu casaco lhe sobra um buraco - afirma-lhe um opositor.

A expressão facial do sujeito descrito até o momento denuncia-lhe a cobiça, a falta de algo que lhe pertencia, ou algo que pertencia a ele e o perdeu, dentre os devaneios semióticos, simbólicos, envoltos no cotidiano.

Penso: seria o botão de seu casaco o emblema perdido de sua humanidade, ou somos apenas portas casas para este objeto arguto? Sabe-se lá.


[windows media player: los campesinos! - you! me! dancing!]

postado por caio teixeira às 3:36 PM |

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