terça-feira, 27 de fevereiro de 2007


Asas

Asas

Da janela via a avenida, uma das artérias da cidade. Um shopping 24h iluminado completava o quadro. Não queria sentir tristeza, todo mundo era infeliz, não queria ser como todo mundo, sempre odiou parecer com alguém, talvez pelo medo de se ver no espelho, ou por puro egoísmo.

Não queria sentir felicidade, afinal, os motivos para se sorrir são sempre tão opacos em momentos melancólicos, quer dizer, melancólicos não, porque melancolia está na moda. Talvez uma falta de felicidade, só isso. Uma momentânea cumulus no céu de brigadeiro do milagre da vida. "Tá, conta outra agora..."

Chorar estava fora de questão, ainda mais durante o pôr-do-sol, hollywoodiano demais. O riso rasgava os músculos da face quando era forçado para fora, logo, ele ficou ali, sem rir e sem chorar, sem pensar demais, pois era coisa de "intelectuais moderninhos", sem vegetar, pois é assim que a "massa" faz.

O vento cortante batia nos olhos vidrados na antena contra choques aeronáuticos sobre um prédio. Ela piscava vermelho, ele piscava castanhos-escuros. Ela parada e sinalizando para que não chegassem perto demais dela, ele parado piscando para que nem o notassem.

A porta de uma varanda do prédio da frente se abriu, um homem, branco, saiu por ela. O homem olhou para baixo, "chão", olhou para cima, "chão", jogou o bituca de cigarro fora e voltou para o apartamento. A antena piscou, um cão latiu e vozes em coro gritaram para os céus.

"- Nossa! Você viu? Ele pulou de repente!
- É! Eu vi! Até consegui ver o rosto dele antes do objetivo!
- Objetivo?
- Oras, ele pulou lá do alto! Como sabemos, ainda não quebramos a força gravitacional sem ajuda de aparelhos, logo, o objetivo dele era o chão!
- Ah, sim! O chão!"

Ninguém o escutou gritando "céu"... Talvez todos gritam isso antes de morrer e agora caiu na rotina e saiu de moda, ninguém mais escuta o céu, talvez as asas foram esquecidas...



e eu juro que tô rindo! rindo! rindo! rindo!

[winamp: rage against the machine - testify]

postado por caio teixeira às 2:42 AM |

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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007


Desaniversário

Já falei isso antes, talvez ela escute e se faça de desentetida, mas no fundo ela sabe que é verdade. Os olhos, o segredo está nos olhos. Pequenos, mas brilhantes. A candura que resplandece deles é algo tranqüilizador, porém inquisitivo, algo de uma inteligência atroz, em algumas circunstâncias beira o assustador. Mas não, acima de tudo, sempre me ofereceu a candura, vez ou outra (com razão), a censura.

E o sorriso então? É algo que merece um livro a parte – quem sabe mais para frente? -, é engraçado, mas o sorriso tem um quê de melancolia. Imagino que deva ser das diversas cicatrizes na alma que, simplesmente, repuxam demais quando o músculo facial se estende, isso provoca uma certa dor, daí surge o sorriso melancólico... Gostaria de um dia arranjar um bálsamo com que, pelo menos, aliviasse esse ardor profundo.

Certa vez tive tudo isso por completo, mas, por egoísmo, ignorância, olhar muito ao redor e não ver o que tinha à minha sombra, perdi. Hoje, cada respiração, cada piscar de olhos, cada pensamento se direciona em sua direção, num afã semi-infantil, bobo, de recuperar algo que foi protegido. Não desisto.

O jeito de se portar condiz com o humor, não é diplomata como eu, melhor assim, fica tudo mais claro. Consegue ser a mais querida entre straight-edges e logo em seguida ter todo o carinho de minha calma vó-coruja. Desperta a bondade por onde passa, deve ser por isso que tantos tentam a derrubar. Mas ela vence, sempre vence, e eu nunca duvidei disso, até mesmo quando ela mesma duvida.

A risada? Enquanto uns tapam as bocas, ou desviam a direção, seguram, prendem, descartam, ela me ensinou a simplesmente gargalhar em meio ao cinza. Parar para falar com hare-krishnas, segurar o corrimão do metrô, simplesmente desencanar se está batendo, esbarrando nos outros, afinal, quem foi que colocou na cabeça do mundo que o toque de outro ser humano é tão nojento?

Ultimamente as tristezas tem falado mais alto, acontece, e a vontade de responder a cada ofensa, a não engolir nada a impulsionam, mas impressionante que nem nestes momentos, para quem a conhece, a alegria de viver se embaça.

E hoje, neste 12 de fevereiro, ela completa seus 18 anos. Faz a faculdade de seus sonhos, e todo um futuro que nunca terá certeza de ter concretizado, somente quando for o seu presente. Calma, meu amor, foi a palavra que recitou para mim enquanto eu me debatia na minha própria grandiosidade e agora a repito para você. Calma. Calma e dance, como sempre dançou, como sempre gostou de ficar nua em casa, como sempre riu sozinha, como sempre bebeu cerveja, como sempre abraçou forte, como sempre beijou, como sempre se deu.

Pare. Observe à sua volta, bem perto, não tente enxergar muito longe, as soluções para seus problemas estão mais perto que imagina, mais longe do que gostaria. Tome cuidado na correria de seu dia, olhe para os dois lados, mas não preste atenção onde pisa, afinal, você nunca prestou e hoje eu acho lindo isso. Sim, demorei para perceber muitas coisas, mas dê um crédito para quem nunca teve de se esforçar, para quem teve sempre o relacionamento como um teste de teorias. Hoje larguei os livros embaixo da minha carteira e quero andar no pátio de mãos dadas com você, escrever nosso nome em uma árvore, ficar olhando formigas carregando folhas, adivinhas as formas em nuvens. Lembra de como tomávamos chuva juntos e de como a água escorria entre nós enquanto nos beijávamos?

E isso não é somente um parabéns, é uma constatação de fatos, que eu não canso de fazer. Eu te amo, e a claridade com que isso se revela a cada dia me ofusca e me alegra. Isso é uma carta de boas-vindas ao resto de sua vida. Uma carta que quero, depois de muitos anos, mostrar a uma criança, que eu vou sempre insistir em fazer comer na cumbuca e chorar de felicidade a cada sorriso que der. Uma criança que vou tentar ensinar a perceber as coisas que possui logo de cára, que não precise perde-las antes.

Feliz Aniversário Cecília Helena Lopes Levenstein, que mora perto da minha Júlio Buono, que um dia fez panquecas comigo, que já tentou tomar banho comigo, que já nadou numa possa durante um porre terrível, que um dia escutou um "vai toma no cú" deste aqui numa verdurada, que já fez um poncho e o transformou no melhor presente, que já andou quilômetros para me ver, que já pediu desculpas, que é feliz e às vezes esquece disso, o que é normal. Parabéns meu amor, e que o vento sopre em sua direção. Parabéns Ciça, que a água sempre esteja fresca. Parabéns Ci, que nossos dias de sofá nunca acabem. Parabéns garotinha. Parabéns. Parabéns.

Eu te amo
E
É
Simples Assim

postado por caio teixeira às 1:02 AM |

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